Incluído no Plano Nacional de Leitura e recomendado para o 1º ano de escolaridade, «Conversas com versos» será apresentado em Lisboa no domingo, dia 23 de novembro, às 16:00, na Sala 1 da Fundação Calouste Gulbenkian. A apresentação contará com uma atuação de Eugénia Melo e Castro, que celebra em 2015 os seus 35 anos de carreira na música. Falamos com uma filha e mãe orgulhosa do seu passado e do seu futuro.
Qual a importância de «Conversas com Versos» na sua casa?
Era um livro vivido diariamente, desde que foi escrito, entrou nas nossas vidas e ficou para sempre , como uma memória de tempos muito bons e muito criativos. Acredito que até hoje muitas e muitas crianças, agora adultos, e outras novas crianças, sentiram e sentirão o mesmo.
O que recorda do livro na sua infância? Qual foi o seu relacionamento com ele?
Eu lembro-me bem da minha mãe a escrever esse livro, muito entusiasmada, eu tinha uns 9 anos, e ela escrevia e mostrava. Foi uma maneira de nos contar histórias, que ela não tinha muita paciência. E assim descobriu a poesia infantil dentro dela.
O que sentiu a filha quando leu o livro escrito pela sua mãe? Nós sabíamos o livro de cor, tudo o que sei de cor é dessa altura. Era imaginativo, criativo e deixava-nos uma sensação de estar a viver aquelas ideias dela, que se traduziam em poesia. Era muito bom e muito alegre.
Como surgiu a ideia deste projeto?
A primeira edição deste livro foi em 1968, e foi pioneiro em Portugal na poesia infantil. Por isso resolvemos relançar o livro, pois a sua poesia é completamente actual, viva, pode-se dizer mesmo muito avançada para a época em que foi escrita. Tem preocupações ambientais, bichinhos, plantas, tudo em perfeita harmonia. A minha mãe faz 85 anos em 2015, e por isso achamos que seria um bom começo das homenagens..... a Porto Editora também aprovou a ideia e estamos juntos a fazer o que Maria Alberta Menéres merece, a ser celebrada e com edições renovadas. Esta é a primeira!
Como é musicar os poemas da mãe e a ver as ilustrações da filha?
É genial! fizemos a três: a minha mãe deu as suas ideias, eu dei as minhas, foi realmente feito a seis mãos. Claro que me senti super responsável pelo produto final, introduzimos as partituras das músicas. Assim, quem quiser ensinar música ou tocar poder usar as nossas músicas. É emocionante ver o trabalho realizado e tão bonito, a base poética é maravilhosa e as ilustrações estão muito emotivas, pois a Mariana é neta única e tem uma relação com a avó que é só delas.....
De certo modo «Conversas com Versos» marcou a literatura infantil nacional. Sentiu alguma pressão por musicar a obra da sua mãe?
Foi complicado transformar os poemas da sua mãe em música? Foi uma enorme responsabilidade, mas tentei fazer tal e qual ela escreveu, com o coração e com a simplicidade que ela coloca sempre em tudo o que faz, um tipo de simplicidade que transforma tudo em especial e diferente, mas sempre acessível.
Esta edição oferece ao leitor algo mais do que as anteriores edições, o CD. Até que ponto esta mais valia é benéfica para o livro em si?
É uma atração a mais, o Cd poderia sair sozinho. Foi gravado de uma forma totalmente independente, profissional, conta com participações especiais de Ney Matogrosso e Lino Krizz, e foi produziodo e gravado com músicos e primeira água, o produtor e músico Eduardo Queiróz, que me acompanha desde o CD Paz, de 2003. Juntos gravámos o Desconstrução em 2006, com o Chico Buarque, o Poportugal, em 2009, e chamamos o virtusos Camilo Carrara, um dos maiores guitarristas e compositores do Brasil e a Nath Calan, que toca Vibrafone, canta e faz percussões, com formação clássica, este disco é todo autentico e super bem gravado. Mas eu preferi fazer esta edição com o Livro + Cd para juntar as linguagens. Temos também os video clips: o primeiro já esta pronto, da canção que o Ney Matogrosso canta, O MEU CHAPÉU / CONSULTA. E esta foi a minha ideia, fazer uma celebração poética, musical e visual. Os poemas são muito musicais, por isso acho que o cd completa o livro!
Qual era a relação da sua filha com o livro?
De muito carinho, ela sempre viu a avó a escrever livros infantis e juvenis e sempre sonhou em poder um dia fazer as ilustrações, pois acompanhava o seu processo criativo ao vivo, que sempre foi uma inspiração para ela.
Como analisa as ilustrações da sua filha?
Acho que são muito criativas e bem pensadas. Ilustrar um livro não é fazer uns bonecos, tem de se entender o texto, e exaltar o que de mais importante o texto quer dizer. Acho muito sensíveis e tecnicamente perfeitas.
Teve alguma opinião final sobre os desenhos ou só viu o resultado final?
Fui vendo, mas meio de longe. A Mariana gosta de trabalhar sozinha no começo, para não se deixar influenciar, mas mãe é mãe e eu tive de respeitar as opções dela, e não me arrependo. Eu também sou assim, não quero ninguém ao meu lado a dar palpites antes de ter as minhas ideias formadas. Depois deixo, e devo deixar, que me digam depois alguma coisa, me acrescentem, mas o começo é sempre solitário. O processo dela é igual.
O que espera do lançamento no domingo? Haverá novidades? Poderia falar sobre o evento?
Será o lançamento oficial do Livro+CD «Conversas com Versos». Eu vou cantar umas 4 ou 5 musicas de viola e voz, acompanhada por Gabriel Godoi, e será apresentado em estreia o video clip de O MEU CHAPÉU / CONSULTA. É uma honra imensa termos o apoio da Fundação Gulbenkian neste projecto, e isso deve-se ao facto da minha mãe ter ganho em 1986 o Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças “pelo conjunto da sua obra literária e pela manutenção de um alto nível de qualidade”.
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